A roda dos alimentos

Hoje fui à mercearia. Todos as hortaliças e legumes estão em exposição no passeio, desde a passadeira até à paragem de autocarros, pelo menos ao longo de 20 metros. Três filas de caixas inclinadas estão adjacentes ao edifício e duas ilhas de caixas em cima de mesas, em frente e já sem o toldo por cima. A dividir as duas ilhas está o acesso à mercearia propriamente dita, que se desenvolve em percurso contínuo desde as borboletas de acesso, até às duas caixas e de novo borboletas para a mesma saída. Entramos, esquerda corredor dos farináceos e enclave dos pães turcos ao fundo, viramos à direita temos as vitrines das carnes seguida de saladas frescas a peso, continuamos a virar temos prateleiras de produtos multiétnicos de estômagos experimentados, do lado esquerdo iogurtes, queijos e derivados frescos até ao fundo onde viramos à direita e antevemos por entre ilhas de pequenos produtos, as duas caixas.
Vejo-a vir e ir, de bata branca como as demais e um riste rápido ao telemóvel, a ritmar-lhe os produtos que tem que dispor pelos favos aleatórios de necessidades anónimas que aparecem pelas prateleiras. A bata encaminha o olhar para a tez morena e sardas do rosto largo de uma cor de tons homogéneos, lábios fartos e olhos mortiços de quem se deixa servir. O cabelo encaracolado repete as cores do rosto em tons àsperos da terra seca e do sol quente, para complementar os dias cinzentos e frios, o passeio de betão, a monotonia dos carros.
A fila empurrou-me e o sol ocultou-se; despejando as minhas mercearias já pesadas no alumínio frio da caixa um, retive o troco e o sorriso simpático que esqueci logo, pus mãos no volante cromado da bicicleta e antes de chegar a casa já tinha congeminado todas as alterações que iria fazer à minha roda dos alimentos. Mais legumes e hortaliças.